terça-feira, fevereiro 14, 2012

Novo Recordista Carioca de Distância: Konrad Heilmann decolando de Porciúncula - 163 kms!




Quem convive com o piloto carioca Konrad Heilmann (Konrado) já deve tê-lo ouvido falar, quando o assunto é a busca de vôos de distância no Estado do Rio: "Não é Campos. O vôo tem que ser de interior. Tipo, Campos não é interior. Campos é vôo de litoral. O negócio é Porciúncula."

De fato, Campos esteve ultimamente bem cotada como possível origem do próximo recorde carioca, especialmente depois que o piloto José Guilherme Lopes Lessa (Zé Gala) conseguiu a distância de 133 Km decolando de lá - vejam só! – exatamente há um ano atrás, 6 de Fevereiro de 2011.

Mas Konrado tinha outra teoria...

Um dos mais dedicados pilotos brasileiros quando o assunto é buscar vôos de distância, Konrado sempre mostra grande determinação e paciência para buscar os vôos de qualidade, não interessando aonde seja. Ele pode acordar num determinado local e se a perspectiva de vôo não é boa, no momento seguinte Konrado é capaz de pular em seu carro e dirigir centenas de quilômetros, atrás de alguma opção que pareça melhor em outra rampa, nem que seja só no dia seguinte.

Fiel a este espírito, na semana passada, mais especificamente no dia 7 de Fevereiro, Konrado foi pela segunda vez, em duas semanas, tentar fazer um vôo longo partindo de Porciúncula.
Na primeira barca, no dia 25 de Janeiro, Konrado e Max Turiaco já haviam feito uma primeira investida em Porciúncula, o que resultou num belo vôo de 127 Km para o Max, enquanto Konrado teve que pousar prematuramente devido a um erro de decisão. Nós sabemos que o acesso para Porciúncula não é o mais fácil, a estrada é ruim e o caminho é longo. Além disso as opções de hospedagem não são as mais confortáveis. Mas só quem não conhece o Konrado acharia que ele ficaria desanimado em partir para uma segunda tentativa.

E de fato, doze dias depois, em 7 de Fevereiro, em nova barca com Max, Konrado partiria para conquistar o novo recorde carioca de asa-delta, cujo detentor até então, era o não menos dedicado Geraldo Nobre.

Geraldo, desde que bateu o recorde carioca em 4 de Março de 2007, num voo de 159Km iniciado em Nova Iguaçu e terminado próximo a Lorena-SP, vem se utilizando da tática de efetuar vôos de triangulação, que garantem uma maior pontuação OLC, usada para a maioria dos campeonatos online como o Rio XC. Na verdade, com esta tática Geraldo vem colecionando, literalmente, todos os títulos das edições do Rio XC, ano após ano.

Talvez o incentivo da pontuação do triângulo, somado ao conforto de decolar em Petrópolis, tenha retirado um pouco o foco, não só do Geraldo, mas também de outros competidores do Rio XC, dos vôos de distância em linha reta. A distância em linha reta é o verdadeiro medidor do vôo de distância, o padrão original desde os primeiros campeonatos de distância. Um vôo em linha reta poderia, discutivelmente, não estar sendo devidamente valorizado pelos padrões da OLC?

Bem, talvez possamos concordar que, ao menos, um vôo de recorde em linha reta têm um maior valor subjetivo do que vôos de triangulação no imaginário dos pilotos de asa!

Seja como for, no caso das decolagens do Rio de Janeiro, sabemos que é bem mais difícil conseguir uma distância longa em linha reta que arrecade a mesma pontuação OLC de um vôo de triangulação clássico, normalmente decolado das confortáveis rampas de Petrópolis, Sampaio ou Papucaia. Note-se que a maior pontuação do Rio XC Open 2012, mesmo depois do vôo recorde do Konrado, ainda é um triângulo decolado de Petrópolis!

No final de semana dos dias 4 e 5 de Fevereiro a maioria dos pilotos cariocas optou por decolar de Petrópolis, num final de semana de tempo bom e que gerou muitos pontos para o Rio XC. Esses pilotos também sabiam que por maior que fosse seu voo, teriam o conforto de dormir em casa. Nesses dias Konrado estava trabalhando em São Conrado no voo de instrução, e já preparava as malas para partir para Porciúncula durante a semana.

Vamos então ler os relatos dos pilotos presentes, tal como ouvido por este seu estafeta honorário neste último Domingo, no Pepino.

Nas palavras do Max Turiaco:

"Era um dia de final da condição no Estado do Rio. Da rampa de Porciúncula era visível que a condição na direção do Rio estava podre, enquanto que um pouco longe da rampa, na direção do interior, a condição estava formando muito bonita. As nuvens gastas da formação pelo lado carioca, estavam derivando de Sul para Norte, com algumas outras nuvens se formando numa camada abaixo da rampa. Uma rota que seria obviamente fraca para voar na rota mais tradicional em direção ao Rio. Decolamos da rampa Oeste de Porciúncula. Eu decolei primeiro e consegui ganhar com rapidez debaixo de um cumulus mal definido, de base esgarçada, que estava em cima da rampa. Essa térmica ao contrário do esperado, derivou de Norte para Sul, e quando comecei a me afastar da rampa, então na deriva da rota tradicional, pensei em tentar fazer um vôo local de ida e volta, pois não acreditava que seria possível atingir a condição de interior, que estava bem longe e ficando mais longe ainda com a derivada desta primeira térmica. Quando olhei para trás vi o Konrado, que teve muito mais dificuldade de ganhar a térmica inicial do que eu, porém ele ficou com ela, e forçou a derivada de Sul para Norte, e acabou, com muita paciência, ficando muito mais alto do que eu. Nessa hora tive que aplaudir o esforço e a tática de Konrado que já estava pensando em tentar jogar na condição de trás desde antes da decolagem. E foi o que ele fez, usou a altura para chegar na Pedra do Elefante. Ele mereceu o vôo porque foi atrevido e audacioso!".

De fato, se olharmos o vôo do Konrado vemos que ele foi a quase 2 mil metros na térmica inicial, e teve que brigar nesta altitude máxima até encaixar na condição do interior. Notem nesta primeira foto como as camadas estavam indefinidas e misturadas.



Nas palavras do Konrado:

"Eu tinha falado para o Max que seria possível engatar na condição de trás, se ficássemos altos na rampa, pois a formação do elefante era animadora. Então foi o que fiz, fui me segurando até o Elefante voando para Oeste, sem saber ainda exatamente o que estava acontecendo com o ar. A impressão era de que tínhamos várias camadas em conflito, que estávamos na beirada da condição, e nada estava definido. Fiquei trabalhando até chegar no Elefante, poupando a altura que tinha conseguido na rampa. Depois de ganhar no Elefante, fui sentindo que a condição estava chamando para o interior e depois que entrei nela, já estava em outra camada, o novo teto agora era de 2.500 metros. A partir daí o voo foi bem tranqüilo trabalhando as térmicas praticamente sem ficar abaixo de dois mil metros.”

Nesta bela foto a seguir, Konrado está aproximadamente no meio do voo, no trecho do vale de São José do Manhuaçu-RJ.


Segue o relato, nas palavras de Konrado:

“No meio do voo, deixei a Serra do Caparaó à minha direita, e pude sentir nitidamente a influência que esta Serra causa nos ventos de toda a Região. É lá que fica o Pico da Bandeira (2892 metros) e é impressionante a força que o Pico exerce sobre a condição. A sensação nítida que eu tinha era de que o Pico atua como um gigantesco sorvedouro de ventos, tragando toda a condição em volta e chamando os ventos em sua direção. Naturalmente o Pico em si é uma grande fonte termal, no entanto sua influência é negativa na extensa área em volta, e a Serra do Caparaó passa a ser um local a ser evitado.”

Olhem agora que beleza de cloud street Konrado pegou no início da cordilheira da serra entre Realeza e caratinga: sólido, chapado e alinhado!



Konrado acelerando na base:



Konrado chegando a Caratinga, com as formações começando a secar, porém com streets ainda bem definidos:



Aproveitando as últimas formações do dia, Konrado pousaria só às 7 da noite:

Talvez o mais impressionante nesta história toda, seja que Konrado, após este vôo de 5 horas e 163Km, tenha resolvido voar novamente no dia seguinte, optado desta vez pelo Ibituruna em Governador Valadares-MG e feito praticamente o caminho inverso ao do recorde do dia anterior, conseguindo outros impressionantes 151 Km! Como disse o Fiães, o cara é incansável!!

Antes de me despedir do bate-papo com o Konrado, ainda aproveitei para perguntar se o fato de o Max ter classificado o voo dele como “atrevido” e “audacioso” se deveria à escassez de pousos no início, quando ele teve que optar por voar sozinho, não muito alto, entre a rampa e a Pedra do Elefante. Konrado admite que sim, que “Não tinha muito pouso não, mas tinha, dava pra pousar nas chapadinhas em caso de necessidade.”

E continua, polêmico: “Sabe qual o problema da nova geração de voadores? Não aprenderam a pousar em roubada, pousar em chapada usando as asas intermediárias. Passaram muito rapidamente para as topless de alta performance e não querem ter que fazer aproximações de precisão. Temos logicamente que evitar ao máximo pousar em roubadas, fazer de tudo mesmo para não pousar, mas se tiver que pousar tem que saber pousar. Mas atenção: jamais me aventuro em locais sem pouso, sempre mantenho uma alternativa, mesmo que seja um pouso de emergência.”

É com esta postura ousada que Konrad Heilmann continua sendo um dos grandes nomes do voo de distância brasileiro! Parabéns ao piloto por mais esta conquista e por tornar esta edição do Rio XC muito especial logo neste começo de ano!

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