sexta-feira, novembro 30, 2012


Pois é pessoal, chegamos ao final de mais uma edição do Rio XC!

Sendo assim, convido vocês a decolarem comigo neste texto, para fazermos um apanhado do campeonato deste ano!

Estão prontos, checados e engatados?

Então vamos lá!

Logo de saída, este texto decola e começa a perder um pouco de altura, parece que a condição não estava tão farofa quanto parecia olhando da rampa... Reconheço que edição 2012 de nosso campeonato recreativo não contou com o mesmo sucesso dos anos anteriores, pelo menos em termos da empolgação com que os pilotos se dispuseram a voar dentro do estado do Rio.

Digo isso em termos da competitividade do evento, porque o Rio XC 2012 teve sim todos os elementos que caracterizam um campeonato cujo principal objetivo é o treinamento e evolução pessoal dos pilotos participantes, em especial dos pilotos intermediários que começam a abrir suas asas para o XC, mas também para os pilotos avançados que querem usar o incentivo extra para se prepararem para as competições.

Bem, parece que o vario deu uma apitadinha aqui, vamos tentar enroscar, mas... Enroscamos numa falsa térmica, e entramos numa pequena descendente, pois somos obrigados a identificar um problema, que é comum ao voo-livre de asa de uma forma geral: o declínio de novos participantes. Isto ficou claro na Categoria Intermediária que só contou com os pilotos Cristiano Nunes e Fernando Trindade Vivas.

Uma forma positiva de encarar este fato seria pensar que o Rio XC, depois de vários anos, conseguiu elevar seus participantes a uma categoria superior, a Categoria Open, que continua bastante disputada.

Mas agora a descendente aumentou de força, visto que a outra forma de entender isto é constatar que há um declínio acentuado na formação de novos e jovens pilotos que deveriam estar integrando a próxima geração de campeões cariocas.

Puxa, o voo está bastante difícil, as asas estão rendendo bem, mas já faz algum tempo que o vario se calou...


Faço aqui neste texto, que deveria tratar prioritariamente de fazer um balanço do campeonato em si, uma pequena digressão sobre o problema levantado acima.

Este fator do declínio de novos participantes não é exclusividade dos Clubes de Voo do Estado do Rio, é algo que afeta todas as organizações de Asa-Delta, até mesmo em nível mundial. Para tentar reverter este quadro os Clubes precisam incentivar os cursos de voo e os instrutores. O CSCVL está tentando se organizar para isto, e o exemplo deveria ser seguido por todos os demais clubes.

É importante notar que o Parapente conseguiu se organizar com mais eficiência, em termos de instrução, pois esta atinge números muito mais expressivos do que os da Asa-Delta, ainda que a asa, estatisticamente, tenha um maior fator de retenção, isto é, o novo piloto de asa tende a permanecer praticando o esporte por muitos anos, em maior percentual do que o novo piloto de parapente.

Ainda assim, mesmo que um grande percentual de novos pilotos abandone o Parapente, a constante exposição do esporte a uma maior quantidade de potenciais participantes favorece o aprimoramento da qualidade, ou seja, um maior número de pilotos talentosos é descoberto, e são estes que tendem a permanecer no esporte, elevando automaticamente o nível médio dos pilotos.

Ôpa! Aqui esbarramos numa térmica digna deste nome, o vario começa a apitar fraquinho e vai a termal ganhando força pouco a pouco. Esperamos que os novos praticantes que se formaram em 2012 possam em 2013 participar do Rio XC incrementando a Categoria Intermediária. Sei que todos nós torcemos para que mais pessoas se interessem em aprender Asa-Delta no estado do Rio, mas, como apenas torcer não adianta, sugiro a todos os pilotos em atividade que se interessem em divulgar a participação no Rio XC para todos os novos pilotos que conhecerem.

Da mesma forma, quando encontrarem pessoas interessadas pelo esporte, seja nas rampas, nos pousos, através de amigos, que dediquem 5 ou 10 minutos a explicar como o esporte é bacana, como ele pode ser praticado com alto nível de segurança, e encaminhem o interessado ao seu Clube de Voo, para maiores informações.

Não posso deixar de mencionar que é importante fazer uma avaliação preliminar do potencial candidato. Não é qualquer um que deve ser aconselhado a voar de Asa-Delta. Acho que isso nós já aprendemos ao longo do tempo. Algumas pessoas são do ramo, outras não levam nem jeito. Longe de ser preconceituosa, este tipo de seleção, às vezes um pouco intuitiva, visa a proteger o interessado incauto que poderia se acidentar. Sabemos que o voo de asa não é um esporte tão simples, ele exige uma boa coordenação motora, uma boa noção de espaço tridimensional e uma atitude de reação rápida a tomadas de decisão.

Irei propor dentro em breve que o CSCVL, por exemplo, adote um pequeno questionário que visa a descobrir se o potencial interessado em instrução tem capacidade, tempo, e até mesmo condições financeiras a se dedicar com segurança ao esporte. Na falta de um questionário, uma simples avaliação de como a pessoa dirige, já fornece algumas pistas sobre a coordenação do candidato. Temos que ficar atentos a estes detalhes.

Um dos motivos da alta deserção no parapente é que ele tende a ser ensinado como algo fácil. Paradoxalmente, ao assumirmos que voar de Asa-Delta não é fácil, tendemos a diminuir, através de uma maior qualidade dos pilotos em longo prazo, o maior fator de aversão ao esporte: a percepção de que ele é perigoso.


A termal nos deixou animados, mas logo estamos na tirada perdendo altura novamente...Continuando com nosso balanço sobre o Rio XC 2012, talvez também um outro fator contribuinte para uma menor combatividade na Categoria Open este ano, tenha sido uma consequência do aumento da percepção de que alguns voos que tornaram a disputa mais emocionante nos anos anteriores, aconteceram em áreas proibidas e alguns até mesmo em áreas perigosas.

Voar longe no Estado do Rio não é uma tarefa tão fácil, pois as áreas inerentemente mais indicadas para o voo de asa, muitas vezes são espaços aéreos movimentados. As áreas que não tem movimento de aeronaves muitas vezes são serras com limitações de pousos e relevo acidentado. Com isso o piloto que faz voos de alta pontuação no Rio tem que ser sagaz e organizar delicadamente suas rotas para poder voar com segurança.

Agora o vario apitou forte, jogamos para dentro da termal de faca com a asa estalando com a força da térmica! Faço meus sinceros cumprimentos aos pilotos que participaram desta edição, pois não apenas houve uma grande diminuição de voos realizado através de áreas de maior tráfego aéreo como não houve nenhum relato de acidente ao longo de todo o ano. Este é sempre o maior mérito de cada edição do Rio XC que no ano de 2012 novamente não nos desapontou!

A termal diminuiu um pouco de força, mas o vario continua apitando, a termal agora está um verdadeiro salão, lisa e constante mas um pouco mais fraca. Outro ponto que pode ter contribuído para um menor interesse dos pilotos de uma forma geral foi o novamente extraordinário domínio do piloto Geraldo Nobre que se sagrou Hexa-Campeão do Rio XC! Repetindo parcialmente sua famosa tática de realizar largos triângulos durante a temporada de verão, logo no início do ano e combinando-os com alguns impressionantes voos de distância, Geraldo continua ditando o "teto" do campeonato, ano após ano.

Posso até dizer que esta "tampa" que o Geraldo aplica no início da temporada desanima os pilotos que correm atrás, mas não poderia jamais dizer que o título deste ano, assim como o de todos os outros anos, não foi super merecido! Geraldo Nobre é a essência do voador de XC e tem domínio e conhecimento dos principais picos de voo do Estado do Rio. Temos o privilégio de poder contar com a régua do Geraldo para podermos medir nossos próprios esforços!

Partimos na tirada outra vez com boa sustentação, os pilotos se espalham para tentar achar a próxima termal. Bem, o núcleo do Rio XC é constituído pelas rampas de Petrópolis e Nova Iguaçu. Esta última, que já foi palco de voos de recorde estadual e que conta com o caldeirão de Nova Iguaçu para alimentar a condição da Serra do Vulcão, acaba sendo mais utilizada pelos pilotos locais, pois ela apresenta dificuldades de acesso muito grandes, e para o piloto que sai do Rio acaba sendo mais vantajoso ir logo para Petrópolis.

Prosseguindo nesta tirada nos deparamos novamente com algumas descendentes. As rampas de Petrópolis, além do acesso muito mais fácil, também apresentam uma condição de voo com potencial ainda melhor do que Nova Iguaçu, principalmente pela altitude dos picos da Serra dos Órgãos e maior facilidade de rotas de XC sobre áreas menos densamente povoadas. No entanto, elas sofrem com um crônico problema de pousos oficiais.

As rampas da Siméria e do Morin se apoiam no pouso de Fragoso, que é pequeno, turbulento, e cercado de obstáculos em todas as direções. Para completar é grande o número de pipas sendo empinadas pela molecada - e pipa com cerol é muito perigoso para uma Asa-Delta! - e a qualquer momento o piloto mais descuidado pode ser surpreendido por algum evento que tenha lugar no gramado, como uma feira popular, e que poderia definitivamente complicar ou até inviabilizar completamente o pouso.

A descendente aumenta, o que indica talvez que estejamos próximos de alguma térmica. Falemos sobre a rampa do Parque São Vicente, cujo pouso "oficial" nunca é tão oficial assim, pois toda hora está mudando, seja em função de uma nova plantação, seja em função de uma implicância dos donos dos terrenos, etc. Eu mesmo admito que um dos fatores que me desanimou de voar Petrópolis este ano foi a falta de um pouso oficial com biruta. Por mais que contemos com nossa capacidade de estampar e sair para um cross, não faz sentido termos que obrigatoriamente conseguir isto para escaparmos de um pouso complicado. Se pudéssemos contar com um bom pouso para a rampa do Parque São Vicente, voar em Petrópolis diminuiria seu fator de aventura e aumentaria o fator de campo de treinamento de XC!

Ah, finalmente! Era óbvio! Em voo-livre algumas coisas são o contrário da vida real: tudo o que desce muito tem que estar subindo rápido em algum lugar. O barulho do vario é música para meus ouvidos e temos boas novidades neste departamento: nosso amigo Geraldo Magela, o "Lalado", conseguiu um acordo com um proprietário de uma fazenda e o CSCVL fará uma pequena contribuição para ajudar o Clube de Petrópolis a manter este pouso em excelentes condições. Com isso voar em Petrópolis no próximo verão será mais seguro e mais agradável. Dentro em breve os pilotos serão convocados pelo Lalado para fazer uma revoada inaugural deste pouso! Fiquem ligados nesta chamada!

Agora derivamos um pouco em direção às montanhas e engatamos definitivamente numa térmica forte que nos leva ao ponto mais alto deste voo! Aqui eu gostaria de destacar os dois voos mais impressionantes do Rio XC 2012!

Obviamente estou falando do novo recorde estadual batido pelo Konrad Heilmann e do sensacional expresso Petrópolis-Angra dos Reis inaugurado por ele - e quem mais? - Geraldo Nobre! Konrad é um piloto batalhador, o mais constante representante do Brasil em campeonatos internacionais e um excelente piloto de Cross Country, e que já fez voos antológicos no Rio XC, como a travessia Sapucaia-São Gonçalo, e que este ano conseguiu aquele que, em minha humilde opinião deveria ser o objetivo máximo de um campeonato de XC: a quebra de recordes de distância em linha reta, a disciplina definitiva do voo de Asa-Delta. Parabéns Konrado por elevar a barra para o resto de nós!

Já Geraldo Nobre é este mago do XC, que além de dominar a pontuação com seus voos de triângulo, conseguiu realizar rotas de distância livre sensacionais e inusitadas este ano, como por exemplo decolar de Petrópolis e pousar próximo a Itacoatiara. E quando provocado ele ainda aparece com um voo-espírita como esse de Petrópolis para um pouco além de Angra dos Reis! Não consigo nem imaginar a emoção de sobrevoar aquela Serra de Mangaratiba, chegando sobre o mar cor de esmeralda de Angra. Se quisesse, poderia até ter pousado na Ilha Grande, mas podemos entender que ele tenha preferido o conforto de pousar no continente. Aliás, será que alguém já pousou de Asa-Delta na Ilha Grande?

Vocês podem ler sobre estes dois voos fantásticos nos artigos anteriores do nosso Blog, logo abaixo deste texto!

Mas epa, aqui vocês vão notar que a termal forte deu uma falhadinha de repente. O organizador do campeonato e editor deste blog desapareceu no início do ano... Onde ele estava? Bem, aqui peço desculpas aos participantes por não ter dado uma atenção maior ao campeonato. Talvez uma maior divulgação, provocações, agitos, artigos no blog, pudessem ter motivado os participantes a voar mais. Em minha defesa quero dizer que um dos fatores que me distraiu da organização e incentivo ao campeonato foram os próprios voos, pois tive um primeiro semestre muito voado, em vários picos diferentes, mas não no Estado do Rio, com ênfase em participação em campeonatos, o que costuma ser bastante intensivo. Já no segundo semestre tive, e ainda estou tendo, que correr um pouco atrás do vil metal, e resolver alguns problemas da vida prática. Sendo assim, no que toca ao Rio XC 2012, todos os meus voos acabaram sendo realizados da Pedra Bonita, pela facilidade operacional como um todo e por estar envolvido com o Clube. Mas espero que ao menos este texto de final de ano gere algum interesse e esquente a disposição dos pilotos para entrarem em 2013 ferozes!

Finalizando o texto com a termal subitamente bombando forte de novo, espero que possamos fazer um campeonato ainda melhor e mais seguro em 2013, e aproveito para parabenizar mais uma vez nossos grandes campeões deste ano.

Cristiano Nunes, o Campeão Intermediário, foi um piloto que cresceu muito durante o ano de 2012, finalizando no top 10 da Categoria Open. O assombroso Geraldo Nobre, campeão dos campeões da Categoria Open foi nada menos do que Hexa. Na vice liderança do Intermediário, Fernando Vivas teve sua segunda colocação garantida por ausência de adversários, enquanto que Cedrick Vils realizou consistentes voos de Petrópolis ao longo de todo o ano e conquistou a merecida vice liderança da Categoria Open.

A pergunta que não quer calar para 2013 é novamente a mesma de todos os anos: quem será que vai conseguir destronar o Geraldo Nobre?

Um grande abraço e parabéns a todos!
Fabiano

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